Monday, February 20, 2017

Fotografia

Minha Querida,

Por esta ou por aquela razão, as mensagens que trocámos ultimamente não foram das mais positivas. Principalmente se as compararmos com as do passado. Que tu esqueceste, mas eu não…Queixas, silêncios, ausências, indiferenças (o que mais me dói…).

Só que hoje, ao ver-te de chapéu de palha, deitada sobre o Mar, sorriso enigmático e olhar fixo num horizonte que eu não tenho a sorte de partilhar contigo, mandei o orgulho às ortigas e, levado pela inspiração que poucas pessoas me trazem, decidi escrever-te umas linhas. Tentarei não me alongar, nem deixar que o meu coração – esse tolo – se deixe levar por esse teu encanto. Não vá o palerma pegar num bote qualquer que encontre por aí e saia à tua procura nesse Mar onde já não tenho lugar.

Mas a verdade…é que estás linda nessa fotografia. E não consegui deixar de to dizer. Posso ser parvo (sinto-me assim…), ingénuo ou inocente por te dizer as coisas deste modo, mas, sinceramente, acho que já não sei – nem quero – ser de outra forma. Tenho o coração ao pé da boca e, nas vezes em que não o amordaço – digo realmente o que sinto. Principalmente quando algo explode cá dentro, dando início a um processo de combustão emocional.

Estás longe de ser perfeita e continuas mal-amanhada. Mas esse sorriso…Esse ar de quem sabe o que quer, o que procura, onde quer chegar. Essa mistura de menina e mulher. Esse ar enigmático. Essa paz…Tudo isso me transporta para outros mundos, mundos que conheci, mundos onde vivi, mundos onde sonhei viver…Ao olhar para a tua fotografia…sinto-me em casa. Não na casa onde vivo, mas na casa que construí para mim (para nós?), na casa que idealizei e sonhei, na casa onde seria feliz (se existisse felicidade para mim…).

O chapéu, a almofada, o mastro, as velas recolhidas, os cabos, a pulseira verde, a cor da tua pele, as covinhas que fazes quando sorris, o bikini que pede que o desatem. Parece uma encenação perfeita. Como se não pudesse ser verdade. Como se, mais uma vez, fosse tudo fruto da minha imaginação e dos meus sonhos. Será tudo fruto da minha imaginação e dos meus sonhos???

Por vezes vou acompanhando a tua vida através do Facebook. Como se, dessa forma, pudesse de alguma forma fazer parte da tua vida. Às vezes encolho os ombros, refilo comigo mesmo, praguejo, chego até a insultar-te. Baixinho, não se dê o caso de me ouvires e ficares triste comigo. Fujo a sete pés da tua ausência, da tua indiferença. Como se não quisesse ver o que está estampado no teu rosto: que vives bem sem mim, que sou apenas um personagem de um passado tão longínquo que não passo de uma mera miragem. E, por vezes – muito raramente – deixo-me sonhar e, aí, embalo-me nesses teus olhos e na tua boca. Depressa acordo para uma realidade que, sem ti, fica mais cinzenta e vazia.

Ah, como são curiosas as emoções…Tenho tantas saudades das nossas intermináveis conversas, faltam-me os sonhos que construímos juntos, custa-me horrores sentir que não significo nada para ti. E, ao mesmo tempo disso tudo, fico feliz por ti. Porque os teus sorrisos transpiram felicidade, porque as tuas fotos replicam os sonhos por ti sonhados, porque continuas linda e, aparentemente, feliz contigo própria e com os caminhos que vais escolhendo. E, talvez inebriado por esses sorrisos e por esses sonhos, acabo por te perdoar, enternecido, o facto de me teres esquecido.


Wednesday, January 18, 2017

Durante anos...

Durante os anos em que te escrevi incessantemente acreditava que o fazia na esperança que me lesses, que me ouvisses, que me respondesses. Pensava eu então que aquele esforço hercúleo de converter sentimentos, lágrimas, dores, saudades em palavras, frases e textos me ajudaria a extrair de ti um sorriso, um afago, uma palavra só. E julgava eu que esse sorriso, esse afago, essa palavra me saciaria. Julgava eu que a tua resposta, fosse ela qual fosse, me daria as respostas que tanto procuro e que ali finalmente encontraria a paz.

Passados tantos anos, tantas palavras, tantas cartas e tantos silêncios, apercebi-me hoje, por mero acaso, que a expectativa de uma resposta não foi a verdadeira razão para toda aquela escrita
(pelo contrário, talvez os teus silêncios o tenham sido)

Escrevi-te, escrevo-te, porque algo mais forte do que eu, do que a razão, me impele para o fazer. Porque por ironia do destino, bênção dos Céus ou infortúnio desta vida, carrego demasiado Amor dentro de mim. E esse Amor por vezes é tanto que me sinto verdadeiramente a transbordar. Nesse momento nascem as palavras e uma necessidade imensa de as transpor para o papel. Como se se tratassem de punções diretas ao coração para extrair periodicamente todo esse excedente que me afoga.

Escrevi-te, escrevo-te, porque o meu coração não sossega. Porque o sangue que ele bombeia tem o teu nome gravado, porque a cada batida vejo o teu olhar e a cada contração ouço a tua voz. Escrevi-te, escrevo-te, porque estás longe e essa é a única coisa que faz algum sentido na tua ausência.


Sei o quanto infrutíferas são estas palavras. Sei que de nada adiantam. Não sei se as lerás. Não sei se as lendo terás alguma reação. Mas sei, sinto-o, que esta é a razão pela qual nasci. Por isso hoje não deixarei que a realidade atrapalhe a minha ilusão, que a minha inércia comprometa a minha escrita e, sobretudo, não permitirei que a razão me impeça de te Amar…