Friday, July 25, 2008

Onde andarás...



Onde Andarás - Caetano Veloso
(Ferreira Goulart/Caetano Veloso)

Onde andarás nesta tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces de mim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces…
Eu sei, meu endereço apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento existem em vão
Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve pra nada a janela
A cortina amarela, perdi meu amor
E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso me leve a você
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve… eu sei

Thursday, July 10, 2008

Pilhas de palavras

Minha Querida,

Ontem pus-me a pensar na pilha de cartas que te escrevi, nos milhares de milhões de palavras que eu procurei para chegar até ti, na forma como as juntei, pedacinho a pedacinho, para que fizessem sentido, para que conseguissem (algum dia conseguiram?) mostrar-te o que sinto, para que soubesses que estou aqui, sempre estive e sempre estarei. Para além de toda essa profusão de sentimentos que, mal ou bem, coloquei no papel, no email, na carta, no meio que foi o mais apropriado, escrevi ainda, na minha cabeça e no meu coração, inúmeras cartas que, por falta de coragem, por pudor, vergonha, descrença, sei lá, não deixei que saíssem de dentro de mim. Mas senti-as... Sinto-as...

Em todos esses gestos, quer nos exteriorizados, quer nos interiorizados, coloquei toda a minha Alma. Sei que pode ser difícil acreditares no que te digo, mas em nenhum desses momentos fui falso, fingido ou exagerado (se sou, será apenas pela minha própria natureza). Abri, escancarei, dissequei a minha Alma para que pudesses debicá-la migalha a migalha, para que pudesses sorvê-la aos poucos, mas por inteiro, para que pudesses ler tudo aquilo que nem sequer chego a escrever.

Não faço a mínima idéia se fui bem sucedido nesta tarefa. Se me entendeste, se foste capaz de sentir algo do que te quis transmitir, se percebeste, enfim, o quanto te Amo. Talvez nem fosse essa a minha intenção. Talvez o tenha feito pela suprema necessidade de libertar um fogo que me vai consumindo por dentro. Aqui sei que falhei, pois esse fogo jamais é extinto ainda que temporariamente aplacado.

E ontem... Ontem pensei em todas as palavras, quase que as vi enfileiradas na minha frente à espera que eu lhes desse uma ordem, à espera que eu as libertasse para a grandiosa tarefa para a qual está destinadas. E parei por uns segundos, minutos, horas, não sei, e fiquei sem saber o que lhes dizer. E, pior, o que fazer delas?

São muitas as ocasiões em que as maldigo – em segredo para não as melindrar – pelo peso que colocam na minha Alma e na minha vida. Por vezes renego-as ao ponto de me imaginar a trocar todas, todas mesmo, por um breve e singelo beijo teu. Mas acabo rendido à sua força e ao seu poder e junto-as novamente, uma a uma, para que através delas te possa abraçar, tocar, beijar, acariciar preencher, possuir e, acima de tudo, Amar.

Wednesday, July 09, 2008

Caminhos trocados

Querida Julieta, Meu Amor,

Ainda que eu faça de todos os meus dias uma busca permanente e vigilante por ti e por todo o Amor que eu sei me devotas, a verdade é que os meus olhos não conseguem te distinguir no meio da multidão que se vai cruzando no meu caminho. Por vezes ouço claramente a tua voz, entre tantos sons indistintos, chamando por mim, sussurrando aos meus ouvidos as mais belas promessas de Amor, mas rapidamente me convenço que nada mais é do que o fruto da minha imaginação.

Nos meus sonhos, sim, passeias nos meus braços e aí é o Mundo que desaparece para dar lugar ao Amor que vivemos. Nos meus sonhos descubro o caminho que leva directamente para os sonhos teus e esqueço a realidade, que pouco mais tem para me oferecer.

Mal acordo, procuro no meu caminho encontrar o teu. Viro de um lado para o outro. Dou meia volta. Ando para a frente e para trás. Atento, olho, escuto, na esperança de encontrar um sinal que nunca me chega. E passo os dias, conto as horas, tolero os minutos, porque sei que nos sonhos reencontrar-te-ei.

Talvez na vida nos cruzemos em ruas distintas. Talvez os meus passos estejam um pouco mais adiante, ou mais atrás. Talvez não nos tenhamos olhado nos olhos de forma a percebermos que somos nós. Talvez... Talvez estejamos condenados a viver um sonho e apenas isso. Diz-me ao menos qual é o caminho para chegar até ti. Poderei então enfrentar todas as tormentas para aí chegar. Ou deitar-me para sempre e para sempre...sonhar.

Thursday, July 03, 2008

Para quê?

Meu Amor, Minha Querida

São tão estranhos os dilemas em que, por vezes, me encontro. Verdadeiras encruzilhadas, caminhos que sei nunca percorrerei, opções que jamais quererei tomar e que, no entanto, parecem-me sempre as mais acertadas.

Ultimamente tenho pensado em ti e em tudo o que sinto por tua causa (será mesmo por tua causa???). Páro para reflectir (será esse o meu mal???), deixo que os sentimentos venham ao de cima (os mesmos sentimentos que eu tento, sem sucesso, empurrar para baixo) e sinto uma necessidade tremenda de escrever, de me libertar dessas emoções, de as transformar em algo palpável como as palavras. Não imaginas como me dói ter estas palavras entaladas na garganta, no peito, na minha Alma, sei lá onde. O problema, é que também me dói escrevê-las, colocá-las no papel e ver o papel secar, incólume, porque não o quiseste receber, porque não o leste.

Por tudo isto, pergunto-me vezes sem conta: para quê? Por que raio sinto eu as coisas desta forma exagerada e desprovida de razão? Para onde me conduz esta paixão que não me leva a lado algum? Existirá alguma lógica divina nisto tudo ou não passará tudo de uma grande ironia onde eu sou o principal (e único) protagonista?

Desculpa-me por te incomodar com estas perguntas que, como todas as outras que te fiz, nunca me responderás. Porventura nem tu saberias as respostas... Talvez queira apenas perguntar a mim mesmo e faço-o por escrito para ser mais perceptível. Sinceramente, não sei...

O que sei, porque o sinto, é que nos poucos momentos em que decido tentar deixar de sentir, de te escrever, de alimentar este Amor que não precisa de qualquer alimento, sou imediatamente invadido por um vazio enorme e frio que me assusta. Talvez não perca tempo a pensar em ti, onde estarás e porque não me procuras, mas de que me serve todo o tempo se nada tenho para o preencher?

Quem sabe não serei um mero escravo do Amor... Criado por este e por este condenado a sempre Amar. Sem razão, sem pensar, sem qualquer tipo de recompensa a não ser a dor de um coração vagabundo.



Elvis Presley - I'm so lonesome I could cry (Hank Williams)